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casa di langa, o hotel de sonho onde fomos caçar trufas no norte de itália

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Já contei aqui a paixão, o amor, a loucura que o meu querido Marido Mistério tem por trufas. Então por trufas brancas é um caso patológico de amor platónico. Como Ele é um marido quase perfeito, achei que tinha de lhe oferecer nos anos um programa inesquecível: uma caça à trufa branca em Itália. Poupei, poupei, poupei e reservei a experiência num hotel que descobri online e que me conquistou mal abri as fotografias. Problema: não era caro, era caríssimo. Poupei mais um bocado e marquei duas noites neste hotel de sonho que é a Casa di Langa, que fica a 30 minutos de carro de Alba, e que se orgulha de oferecer uma experiência única e sustentável aos seus hóspedes.

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O hotel

Fomos de avião até Milão e alugámos um carro para chegar a Piemonte, o santuário da trufa branca. É uma viagem de pouco mais de duas horas, com boas estradas. Também pode optar por ir por Génova, até é mais perto. Quando chegámos ao imponente portão ainda percorremos um longo caminho até ao hotel. Tinha nevado na noite anterior, por isso toda a propriedade estava coberta por um manto branco.

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A paisagem era absolutamente deslumbrante. Fomos recebidos à porta do edifício principal, em tons de terracota, por um simpático funcionário que logo se ofereceu para nos levar as malas e estacionar o carro na garagem. Já eram horas de jantar e tínhamos reservado uma mesa no restaurante, por isso, fomos só deixar as coisas ao quarto e seguimos rapidamente para o restaurante, porque na receção avisaram-nos que já estavam à nossa espera. E estavam literalmente umas 10 pessoas à nossa espera. A sala de refeições é enorme e a cozinha é aberta, tem apenas um vidro a separar. Contei 6 a 7 pessoas na cozinha e 3 empregados a servirem-nos. Nós éramos os únicos clientes naquela noite. Até corei quando chegámos. Quase que pedimos desculpa por estar a dar trabalho aos senhores.

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O restaurante

Ao contrário do que seria expectável (dado o adiantado da hora e o facto de sermos os únicos clientes), não há palavras para descrever a simpatia, a elegância e o profissionalismo com que fomos recebidos. O chefe de sala entregou-nos as ementas com um sorriso rasgado e deu-nos logo inúmeras sugestões. Claro que a estrela do menu era a famosa trufa branca de Alba. Todos os pratos podiam ser servidos com trufa, cujo preço por grama varia consoante o mercado.

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Nessa noite, o preço era €40 extra se quiséssemos acrescentar trufa. É um exagero, é um facto, mas nós – à boa maneira portuguesa – não ficámos a perder, porque a trufa era laminada no momento até nós dizermos para parar. Escusado será dizer que perdemos a vergonha e os nossos pratos ficaram mergulhados num manto de trufa branca. Já que o preço estava pré-definido, abusámos escandalosamente da simpatia e da boa vontade do senhor da trufa.

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Ainda antes de chegarem os nossos pedidos, o meu querido Marido Mistério ia tendo uma coisinha má quando experimentou, com o couvert, o famoso “burro di malga”, que é como quem diz uma manteiga artesanal do outro mundo. É de tal forma uma obra-prima que está exposta no restaurante dentro de uma campânula de vidro. Enquanto isso, éramos brindados com uma quantidade absurda de entradas e amuse-bouches dignas de um restaurante Michelin, como castanhas que não eram castanhas, tomate cherry que afinal era foie gras, uma bolacha finíssima de beterraba a acompanhar uma mousse que não era bem uma mousse, enfim, uma maravilha!

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A seguir dividimos uns gnocchis e um tártaro de novilho de entrada, que cobrimos com o tal manto de trufa branca. Os dois estavam absolutamente divinais.

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Como prato principal, deliciei-me com uns raviolis de rabo de boi e o meu querido Marido Mistério derramou singela lágrima de felicidade quando provou a sua surpreendente empada de perdiz.

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As sobremesas foram outra loucura de chocolates, trufas, crocantes e merengues desconstruídos. A acompanhar um belíssimo vinho da região.

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No fim, o chefe de sala conseguiu a proeza de correr connosco da forma mais elegante de que tenho memória:

- Posso oferecer-vos um digestivo na sala do café?

Ui. Isto foi música para os nossos ouvidos. Ele porque ouviu a palavra “digestivo”, eu porque ouvi a expressão “oferecer-vos”.

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A sala do café é uma aconchegante sala de estar com lareira no mesmo espaço da receção que também serve de bar. Ali ficámos a digerir o nosso incrível jantar enquanto eu dava uma valente coça no gamão ao meu querido Marido Mistério.

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O nosso quarto

Os 39 quartos da Casa di Langa são espaçosos, minimalistas, decorados com muitíssimo bom gosto em tons claros onde predomina a madeira também ela clara: no chão, nos armários, na cama, nas prateleiras, nos detalhes. Os móveis, garantem-nos, são todos sustentáveis. A cama era grande e muito confortável com lençóis e édredons leves, quentes e bons. As (várias) almofadas eram de penas e super macias.

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O quarto tinha ainda uma varanda com uma vista deslumbrante para uma paisagem totalmente coberta de neve. E o mini bar era requintado com os frutos secos embalados em frasquinhos de vidro, e tinha também vinho, café, chá, trufas de chocolate, entre outras tentações. A estética de todo o quarto é um reflexo da preocupação sustentável do hotel: desde os materiais naturais como o carvalho e a terracota, à pedra da casa de banho e aos elementos decorativos locais.

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A casa de banho era enorme, em tons de cimento e com muita pinta. Só no duche cabiam quatro pessoas (ok, não tenha ideias marotas, foi só para ficar com uma ideia do espaço). E as amenities foram das melhores que alguma vez experimentei. Convenci-me de que até o gel de banho cheirava a trufa, mas o meu querido Marido Mistério – que tem um nariz de perfumista – riu-se na minha cara e disse que cheirava a flores. Ok. Concedo, mas que cheirava lindamente, lá isso cheirava. A marca era a norte-americana Le Labo. Fiquei fã. Os toalhões brancos eram macios e enormes.

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Resumindo: não houve nada a apontar ao quarto. Tal como ao serviço. Para ter uma ideia, quando entrámos no nosso quarto, vínhamos com as botas sujas de terra e de neve. Para não sujarmos o chão, decidimos deixar as botas à porta do quarto. Ao fim de dez minutos, estavam limpas e a brilhar, sem nós termos pedido absolutamente nada a ninguém.

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O pequeno-almoço

Como pode imaginar, depois do jantar da véspera, a expetativa em relação ao pequeno-almoço era gigante. E não desiludiu. Basicamente, serviram-nos tudo o que se espera de um bom pequeno-almoço de um hotel de 5 estrelas. Normalmente, é servido em buffet, mas como tinham poucos hóspedes, levaram-nos o buffet até à nossa mesa: sumos, cappuccinos, café, leites à nossa escolha, pães variados e croissants, ovos, queijos, presuntos, iogurte com granola, panquecas e bolos. Tudo fresco, bem preparado e muito saboroso. Enfim, outra loucura gastronómica.

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Depois de tudo isto, a minha vontade era passar o dia no SPA do hotel que prometia uns belos e relaxantes momentos, mas lá fomos nós desfrutar do presente que, no fundo, foi o objetivo desta viagem: uma caça às trufas brancas guiados pela Francesca e pela cadela Coco.

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Uma aventura tão inesquecível para o meu querido Marido Mistério que Ele fez questão de descrever ao detalhe num próximo post perto de si.

 

Uma boa caçada para nós, onde quer que as trufas andem,

Ela

 

fotos: casa di langa e casal mistério

 

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