tipografia do conto, um hotel no porto que podia ser o cenário ideal para um remake da janela indiscreta
Conhece o clássico de Alfred Hitchcock de 1954 com James Stewart e Grace Kelly? Eu sou fã deste filme que conta a história de um fotógrafo confinado em casa com uma perna partida e que se entretém a imaginar as histórias que se passam do lado de lá das janelas dos vizinhos até ao dia em que se convence que testemunha um crime. É ótimo, se não viu, não deixe de ver.
O hotel
A Tipografia do Conto, em pleno centro histórico do Porto, no bairro da Cedofeita, fez-me logo lembrar o cenário deste filme com as várias janelas dos quartos a darem para um pátio comum. É, tal como no filme “Janela Indiscreta”, um exercício de voyeurismo irresistível.
Durante vários anos, o número 28 da Rua Álvares Cabral albergou a tipografia Gráficos Reunidos, hoje é um boutique hotel onde essa memória está literalmente gravada nos tetos e nas paredes de betão. Depois da Casa do Conto (que nasceu em 2011), na Rua da Boavista, a Tipografia do Conto veio em 2019 dar continuidade ao projeto de alojamento local de Alexandra e Nuno Grande, com o mesmo gosto e preocupação pela estética.
De linhas retas, a arquitetura deste hotel é ao mesmo tempo minimalista e vanguardista. Eu adorei. Achei lindo: cheio de luz e recantos para ler.
Todo o hotel foi construído em redor do tal pátio interior, cercado por salas com uma decoração moderna e vanguardista, com portas e paredes em vidro. A luz entra por todos os cantos. A decoração – também ela minimalista – inclui peças vintage, dos anos 70, e de ótima qualidade, como chaises longues, sofás em pele, aparadores e candeeiros retro, entre outras relíquias.
A história do edifício está presente em todos os detalhes: nos azulejos do bar, nas frases de diferentes artistas gravadas nos tetos, na fachada de madeira a fazer lembrar as gavetas onde eram guardadas as letras e respetivas fontes da tipografia. E, claro, no betão das paredes e dos tetos.
O ambiente do bar que também é a sala de refeições é simpático e agradável: tem um piano de cauda, umas letras néon e uns confortáveis sofás de pele. A parede forrada a madeira rústica (com portas antigas) contrasta na perfeição com o balcão de azulejos verdes e o chão de cimento afagado.
Ao fundo do bar, tem mais um pátio, desta feita exterior, ideal para os dias mais quentes. O pátio exterior culmina num dos segredos mais bem guardados da Tipografia do Conto: um pequeno jardim com piscina. O spot ideal para beber um copo de vinho do Porto ou um gin tónico, no verão. Ninguém diria que estamos em pleno centro histórico da Invicta.
O nosso quarto
Situava-se no primeiro andar, era giro e muito confortável: amplo, em tons de branco, e com um espelho a ocupar toda uma parede que lhe dava uma maior profundidade, tinha uma cama de casal super confortável com um ótimo colchão, um édredon leve e almofadas de penas. Tudo o que eu gosto numa cama.
As janelas enormes dos quartos dão literalmente para os quartos da frente, por isso, tenha cuidado, sobretudo se costuma andar de lingerie ou em trajes menores pelo quarto. Nunca se sabe se o James Stewart não estará no quarto da frente de binóculos ou máquina fotográfica em punho…
A casa de banho também é de betão e, tal como tudo na Tipografia do Conto, minimalista. Tinha apenas um pequeno grande problema: a base do duche não vedava bem e, por isso, a água inundava o chão da casa de banho cada vez que tomávamos duche.
Os 10 quartos têm vista ou para o pátio interior ou para a rua e, apesar de variarem nas suas dimensões, a decoração é praticamente a mesma em todos: muito betão, tons claros, móveis vintage dos anos 70 e enormes espelhos.
Se puder escolher, não fique no primeiro andar como nós ficámos: ouve-se demasiado as conversas na receção e os passos dos outros hóspedes nas escadas. Não sei se é geral e comum aos restantes quartos, mas há claramente ali um problema de falta de insonorização, apesar das paredes de betão.
O pequeno-almoço
É servido no bar entre as 8h e as 11h. É bom, variado mas, para meu grande desgosto, não servem ovos. Pelo menos a nós não nos serviram. Para compensar tinha muita fruta fresca (uns figos divinais, meloa, framboesas, maracujá, melancia e mirtilos), diversos tipos de pão, queijos, fiambre, marmelada, granola, aveia, muesli e cereais, panquecas de canela, e diferentes leites à escolha, como amêndoa, soja, arroz e aveia. O sumo de laranja natural era feito no momento e divinal. As manteigas é que eram aquelas pequeninas de pacote. Tinha também um ótimo bolo do dia.
Só os iogurtes é que (infelizmente para mim) eram açucarados. Quando perguntei se tinham naturais, os funcionários pediram imensa desculpa e disseram que iriam comprar sem açúcar para o dia seguinte. Percebi mais tarde que no próprio dia foram a correr comprar de propósito iogurte grego sem açúcar.
Aliás, o serviço do hotel é impecável: muito simpático e atencioso. Incrivelmente sorridentes e prestáveis, os funcionários da receção fizeram-nos um late check out sem pedirmos.
O hotel não tem restaurante, só serve pequenos-almoços e snacks, a pedido. Mas com a incrível oferta gastronómica que há no Porto, seria um crime ficarmos a jantar no hotel…
O bom
Os quartos
O ótimo
A decoração e o serviço
O mau
A água no chão da casa de banho e a falta de insonorização no nosso quarto
Uma ótima viagem até ao Porto,
Ela
fotos: fernando guerra/tipografia do conto
Comments
Post a Comment