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porque é que o ofício acabou de se tornar o nosso restaurante preferido em lisboa

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À minha frente tenho uma mulher maravilhosa a olhar para mim com um ar suspeito, à minha esquerda um casal misterioso, à minha direita dois homens levantam-se da mesa a correr desenfreadamente, rua fora, numa perigosa perseguição policial. Este podia ser o início do novo filme do James Bond, mas foi o princípio do meu jantar no novo restaurante Ofício em Lisboa.

O Ofício abriu no ano passado para voltar a fechar logo a seguir na sequência dos sucessivos confinamentos. Voltou a abrir este Verão e agora espero que tenha vindo como o Toyota – para ficar! – porque aqui encontra alguns dos mais criativos e deliciosos petiscos de comida típica portuguesa. Também encontra perseguições dignas do 007, mas antes temos de falar da comida que essa é preciosa demais para esperar.

 

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A ementa 

Todos os pratos são típicos de uma tradicional tasca portuguesa mas são servidos como nunca os comeu antes. No Ofício não há espumas, reduções ou suspensões, há apenas as mais surpreendentes combinações que transformam um banal prato tradicional numa ode à criatividade culinária.

O melhor petisco que provámos naquele sonho de noite de Verão foi um absolutamente divinal prato de sardinhas (€3,50 cada lombo de sardinha). Sim, eram assadas. Sim, levavam pimentos. Sim, eram servidas no pão. Não, não têm nada a ver com tudo o que já experimentou antes na sua vida.

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Em primeiro lugar, as sardinhas são separadas de toda e qualquer espinha e servidas em suculentos lombos que estão prontos a entrar directamente na boca, sem passarem pela casa de partida. Depois os lombos sem espinhas são colocados em cima de uma fininha e crocante tosta de broa de milho que estala a cada toque com os dentes. Entre os dois, está um deslumbrante escabeche de pimento vermelho e cebola tostada, quase queimada, para amolecer e ganhar um sabor único caramelizado e um aspecto quase de brasas. Tudo isto vem para a mesa acompanhado de uma deliciosa cerveja gelada para o fazer sentir de regresso aos Santos Populares pré-pandemia.

Confesso que foi das melhores coisas que comi este ano e que consegue juntar os ingredientes tradicionais com as mais inesperadas surpresas, tanto na apresentação como no sabor. Agora as más notícias: esta pequena maravilha só está disponível na ementa durante a época das sardinhas frescas, por isso é melhor despachar-se se não quiser perder uma delícia do outro planeta.

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Depois da estrela da noite, chegaram uns surpreendentes croquetes de alheira com maionese de mostarda e limão (€2,50 cada croquete). Por fora, parecem uns banais croquetes redondos iguais a quaisquer outros servidos numa tasca portuguesa. Mas a surpresa está quando dá a primeira dentada e encontra no interior um ovo de codorniz cozido a baixa temperatura. 

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Ao trincar o croquete, a clara consistente rebenta e a gema ainda líquida espalha-se pelo recheio, tornando a alheira ainda mais deliciosa. Pequeno problema: eu cometi a imprudência de dividir um croquete com a minha querida Mulher Mistério e Ela é sempre quem dá a primeira dentada, por isso já não sobrou gema líquida para mim. Da próxima vez, é um croquete por pessoa e não há cá divisões.

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A noite continuou com um recheio de santola do Algarve (€17,50) que leva um toque picante bem saboroso. O recheio é misturado com uma agradável maionese caseira de ervas e especiarias que fica a fermentar durante 24 horas. Para acompanhar vêm para a mesa umas fininhas torradas de pão saloio.

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Por esta altura da noite, já a perseguição de 007 tinha acalmado e a esplanada do Ofício voltava ao normal, com um maravilhoso tártaro de novilho (€10) com – pára tudo... – tutano. O tutano é aquela preciosidade macia que se esconde dentro dos ossos e que quase se desfaz na boca. Neste tártaro, o tutano é cortado em pedacinhos pequeninos e misturado com os mini-cubos consistentes da carne. A combinação dos cubinhos carnudos com os cubinhos macios é absolutamente divinal. E o sabor do tutano eleva este tártaro ao vice-almirantado dos petiscos imperdíveis. Para completar, ainda encontra cornichons e mostarda de dijon. E como se come esta maravilha? Com umas inacreditáveis torradas de brioche pinceladas com azeite de alecrim. Tudo isto é uma combinação dos céus.

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Quanto mais me deliciava com a comida, mais pedia. Por isso, experimentámos ainda os pratos quentes. Primeiro, uma raia com manteiga noisette (€13) que estava bem macia e com um leve traço avinagrado que ajudava a cortar a gordura do peixe. Por cima, levava um cremoso molho holandês com pimenta rosa e um delicioso azeite de coentros. Para finalizar, um mix de ervas aromáticas.

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A seguir, chegou aquele que foi o segundo melhor prato da noite, depois das deslumbrantes sardinhas: o arroz de forno à antiga (€18). Trata-se de um arroz carnudo por dentro e crocante por cima que estava simplesmente perfeito. Não só por ser cozinhado e bem tostado no forno, mas especialmente pelo sabor rico e deslumbrante. Essa maravilha só é possível porque o arroz passa por três caldos diferentes ao longo de cinco horas: primeiro um caldo de galinha, depois de vaca e finalmente de porco. É aí que ganha este sabor rico e único. Só depois vai a tostar no forno com galinha do campo e uma deliciosa mistura de enchidos, onde se destaca um planetário chouriço de sangue. Para finalizar, mais um golpe de génio: um caramelo de frango que torna a cobertura do arroz tostada e molhadinha ao mesmo tempo. Eu confesso que ainda acordo todas as noites, com suores frios, a pensar nesta verdadeira Mona Lisa do Chiado.

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As sobremesas 

Sim, nesta casa, há sempre espaço para as sobremesas. Éramos quatro pessoas à mesa e por isso dividimos primeiro uma agradável tarte de amêndoa (€4), que não estava nada de especial, e depois uma tarte de queijo que vai muito para lá de um cheesecake. A base não existe e o recheio é inacreditavelmente fresco e cremoso, desfazendo-se quase num leite creme. Por cima, está levemente queimada.

A tarte começou por ser vendida apenas inteira (€25), o que só permitia dividir por muitos ou levar o resto para casa. Mas o sucesso foi tão grande que já está disponível à fatia (€5).

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O serviço 

Rápido, muito simpático, eficaz e, acima de tudo, atlético. No entanto, não tão atlético como os dois clientes que se sentaram na mesa à minha direita e que portagonizaram a cena digna de um James Bond. Mas isso leva-nos ao...

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...Ambiente 

O interior tem uma decoração sóbria e discreta, mas nos tempos que correm, e com a explosão de esplanadas que ocorreu em Lisboa, eu não dispenso uma boa mesa ao ar livre. Foi isso que fizemos no Ofício, em plena Rua Nova da Trindade. A rua foi cortada ao trânsito e ocupada quase totalmente pelas esplanadas dos restaurantes.

Digo quase totalmente porque uma boa parte está ocupada por carteiristas que se entretêm a distrair os clientes das esplanadas enquanto roubam o que estiver mais à mão. E foi aí que entraram os dois clientes com alma de 007. Atentos ao que se passava à sua volta, terão visto alguém suspeito.

Primeiro perguntaram-lhe o que levava na mão e, numa fracção de segundo, levantaram-se com estrondo começando a correr como eu nunca corri nem no auge da minha adolescência. Atrás deles, foi outro cliente em sprint e, poucos segundos depois, metade dos empregados do restaurante. Todos numa perigosa perseguição pelas ruas recônditas da zona histórica de Lisboa. 

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As esplanadas pararam numa ansiosa expectativa, perante o ar assustado da cliente que acompanhava os dois heróis e o olhar suspeito da mulher maravilhosa que se sentava à minha frente e que se interrogava em silêncio: "Mas por que raio é que o meu querido Marido Mistério não partiu também nesta temerária perseguição?". O misterioso casal de nossos amigos que nos acompanhava ainda fez tenção de avançar mas, quando eu estava quase, quase a levantar-me (juro, minha querida Mulher Mistério!) fui salvo pelo regresso heróico do primeiro perseguidor que reapareceu na esplanada, qual John Wayne a sair do pôr-do-sol, com uma mochila na mão.

Foi recebido com uma salva de palmas dos clientes e com uma sangria oferecida pelo gerente. Só mais uma prova de que o serviço no Ofício é irrepreensível.

 

O bom 

O serviço simpático, atencioso e eficente

O mau 

A falta de polícia numa rua totalmente ocupada por esplanadas e carteiristas

O óptimo 

A comida criativa, em especial as tostas de sardinha, o arroz de forno à antiga e a tarte de queijo

 

Um óptimo jantar para si onde quer que os carteiristas estejam,

Ele

 

fotos: ofício

 

Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial. 
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Ofício

Rua Nova da Trindade, 11k – 1200-301 Lisboa

De 3ª a sábado, das 12h às 00h

T: 910 456 440

 

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