O slogan diz tudo: “um destino que são 12”. Todas no interior da região centro. Umas mais perto do que outras, mas cada uma com a sua história e a sua riqueza patrimonial. Nunca pensei que ainda tivéssemos aldeias inteiras e castelos tão bem preservados. E cada aldeia é mais bonita do que a outra. Das 12, escolhemos as nossas preferidas. Olhei para o mapa e fiz um roteiro começando de sul para norte. Um programa de três dias, ideal para aproveitar agora estas férias de Carnaval. Sempre, claro, ao volante de um SEAT Ateca, o nosso melhor cúmplice para desbravar trilhos, castelos e aldeias numa rota única e repleta de história.
Dia 1 – Monsanto e Idanha-a-Velha
Saímos de Lisboa cedo para tentar chegar a Monsanto por volta da hora de almoço. O GPS do nosso SEAT Ateca alertou-nos logo que seriam pelo menos três horas de caminho. E assim foi. O marco das Aldeias Históricas não deixou margem para dúvidas: chegámos ao nosso destino. Conhecida como a Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, situa-se a 758 metros de altitude. Começámos por percorrer de carro as ruas estreitas e de pedra, até que decidimos estacionar para subir a encosta até ao castelo.
Vale a pena percorrer o caminho por entre as emblemáticas pedras gigantes de Monsanto, incrivelmente empilhadas de uma forma quase artística que deixaria o Obélix roído de inveja.
Não deixe de passar pelas maravilhosas Pedras Juntas, dois descomunais rochedos por baixo das quais pode arriscar a passar (o meu querido Marido Mistério encheu-se de coragem e arriscou como se estivesse a caminhar para a forca).
Ao chegar ao castelo, ainda consegue ver a alcáçova, as muralhas e as torres de vigia, bem como as ruínas da Capela de S. Miguel, do séc. XII, e a Capela de Santa Maria do Castelo.
A vista, claro, é deslumbrante e a boa notícia é que o regresso é sempre a descer. E depois desta subida, estávamos a sonhar com uns petiscos e uma imperial.
Foi precisamente isso que encontrámos na Taverna Lusitana. Além de tostas, crepes, saladas e pratos típicos, tem uma série de petiscos. Por isso, deliciámo-nos com um prato de tremoços, azeitonas, uma tábua de queijos e enchidos e umas moelas para acabar em grande.
A seguir, passeámos pela aldeia para abater as calorias: começámos logo pelo miradouro que descobrimos mal saímos do restaurante. Tem uma vista de cortar a respiração: os telhados de Monsanto com o campanário ao fundo parecem um quadro. Eu tirei mil fotografias, o meu querido Marido Mistério teve de me tirar o telemóvel da mão. Já não me aguentava.
Continuámos a passear pela aldeia, visitámos a Igreja da Misericórdia, no largo do Pelourinho, passámos pela Igreja Matriz e pela Casa de Fernando Namora. Não sabia (e perdoem-me a ignorância) que o escritor exerceu a sua atividade de médico em Monsanto entre 1944 e 1946. Estou sempre a aprender com este blog. Já de volta ao nosso SEAT, saímos pela belíssima e perfeita Porta do Espírito Santo. E foi nesse momento que demos graças a Deus pela câmara exterior do SEAT Ateca que permite ver o carro de cima, num ângulo de 360º, fundamental para não batermos no arco nem arranharmos as paredes das ruas estreitas das aldeias por onde passámos.
Partimos para Idanha-a-Velha, que fica a 15 km de Monsanto, na esperança de visitarmos a aldeia histórica ainda de dia, mas chegámos já com o sol a desaparecer no horizonte. Estacionámos o SEAT em frente à Porta Norte, com os seus três arcos de forma perfeita, ladeados por dois torreões, que parecem saídos de um qualquer filme da Disney. Apesar de o sol nos ter abandonado sem dó nem piedade, ainda conseguimos passear pela aldeia e perder-nos pelas ruas de pedra até chegarmos ao Largo da Igreja Matriz com o inevitável pelourinho.
Seguimos em direção à Sé Catedral ou Igreja de Santa Maria que vale a pena visitar. Antes ainda passámos por uma das principais atrações de Idanha-a-Velha: o forno comunitário onde ainda se coze o pão a lenha. O meu querido Marido Mistério roeu-se de inveja: o sonho dele é ter um forno a lenha em plena Lisboa…(não me faltava mais nada!)
É impressionante como na aldeia ainda se mantêm intactos vestígios de várias épocas que remontam ao tempo dos romanos, tanto no exterior como no Arquivo Epigráfico, situado no jardim do antigo lagar de azeite, que reúne uma coleção de peças arqueológicas numa exibição que conjuga o passado com as novas tecnologias multimédia, através de um percurso interativo. Seguimos as indicações em busca de uma enorme azinheira que continua a crescer sobre a muralha romana: tem cerca de 150 anos e está aparentemente cheia de saúde.
Antes de voltarmos para o Ateca, ainda arriscámos saltar por cima das poldras do rio Pônsul, uma calçada rústica construída pelos romanos para atravessar de uma margem para a outra. Eu sei. Não temos idade para isso. Mas aquelas pedras são irresistíveis. E conseguimos não cair ao rio!
Infelizmente, a noite é que já estava a cair e não conseguimos explorar mais Idanha-a-Velha. Além disso, o nosso hotel, apesar de ser a 95 km, ainda estava a cerca de 1h 45m de caminho. Escolhemos ficar no novíssimo Casa de São Lourenço Burel Panorama Hotel, o primeiro 5 estrelas da Serra da Estrela, porque no dia seguinte queríamos explorar Piódão e Linhares da Beira. A viagem foi longa mas o destino compensou – e muito. A Casa de São Lourenço é um refúgio de montanha de luxo com uma vista deslumbrante para as montanhas da Serra da Estrela e para o Vale Glaciar do Zêzere. Imagine um hotel de 5 estrelas, com o conforto de um spa de montanha com uma decoração contemporânea, peças de design e detalhes de burel em cada canto.
Já para não falar do incrível restaurante que, além de uma vista espetacular, tem um chef super talentoso que criou uma carta com pratos típicos absolutamente divinal. Desgracei-me com uma inacreditável sopa de castanhas e um bacalhau à Brás delicioso. Já Ele não resistiu a esse pratinho leve para o jantar que é o belo do cabrito assado no forno. Assim não há dieta que me valha…
A Casa de São Lourenço merece um post à parte mas, para resumir, é a melhor opção na Serra da Estrela. Não é tão perto assim das aldeias históricas, mas nós não nos importamos de fazer mais uns quilómetros para dormir num hotel destes. Além disso, fica a apenas 27 km de Linhares da Beira.
Dia 2 – Piódão e Linhares da Beira
No dia seguinte, depois de um pequeno-almoço de rei no hotel, rumámos a Linhares da Beira e ao Piódão, que eu estava doida para conhecer. Não me pergunte como nem porquê (pergunte à vontade: claro que foi culpa do meu querido Marido Mistério que é daqueles que vive a questionar o GPS e não seguiu as instruções da educadíssima e acertada voz do GPS do nosso SEAT Ateca), mas em vez de irmos dar a Linhares da Beira, fomos parar à Torre, na Serra da Estrela, onde tinha caído um nevão na véspera. Não queria acreditar. OK. Estava tudo muito bonito. Havia neve por todo o lado. Deu para tirar umas fotografias e mandar para os nossos Filhos Mistério, mas o nosso objetivo era outro: chegar à aldeia histórica mais próxima.
Graças à espetacular orientação do meu querido Marido Mistério, mudámos de planos e optámos por ir diretos ao Piódão e, no regresso, passávamos por Linhares, já a caminho do hotel. E assim foi. A chegada a esta pequena aldeia é sinuosa, ao longo da Serra do Açor, mas é uma delícia.
Mal vislumbramos Piódão ao longe, a tentação é sair do carro e começar a fotografar. Mas não se precipite, ainda vai ter uma melhor oportunidade de fotografar toda a aldeia, bem mais perto e de um melhor ângulo.
É claramente a minha preferida. Com cerca de 50 habitantes, a aldeia do Piódão é famosa pela sua disposição em anfiteatro, e há quem lhe chame presépio de xisto. As casas distribuem-se em redor dos socalcos, por entre estreitas ruelas, dando um encanto especial à aldeia. O azul dá-lhe cor e o xisto dá-lhe graça. Está nas casas, nas ruas, em todo o lado.
Percorremos a aldeia até lá acima, onde fica a Capela de São Pedro, e descemos pelas ruas e becos até chegarmos à Igreja Matriz, com as suas originais torres em cone, paredes brancas, com detalhes azuis e portas encarnadas, que contrastam com o xisto dominante. Confesso que gostei mais do exterior do que o interior da Igreja.
Continuámos a passear e apercebemo-nos de que, se ouvirmos com atenção enquanto percorremos as ruas íngremes, se ouve em fundo o som de um fio de água em cada esquina: é a chamada Levada. Reza a lenda que aqui se refugiou um dos assassinos de Inês de Castro: Diogo Lopes Pacheco. Aliás, são apelidos ainda hoje muito comuns no Piódão: os Lopes e os Pachecos.
Quando chegámos, já passava da hora de almoço. Por isso, em vez de almoçarmos os pratos típicos no restaurante Delícias do Piódão, com uma vista agradável para a serra, acabámos por entrar n’ O Solar dos Pachecos, onde nos desgraçámos com tapas e petiscos à frente de uma pequena lareira carregada de charme.
Lá tivemos de provar a inevitável tábua de queijos e o vinho da casa que era bem bom. Mas só bebemos um copo porque ainda tínhamos um longo caminho pela frente até Linhares da Beira. Apesar de ser a cerca de 38 km do Piódão, seria quase uma hora de caminho pela serra.
Claro que chegámos já ao fim da tarde com o sol a desaparecer entre as nuvens e as muralhas do castelo. Fiquei surpreendida ao descobrir que esta autêntica aldeia museu está praticamente intacta.
Linhares da Beira recebeu o seu primeiro foral ainda no tempo da fundação de Portugal, atribuído pelo próprio D. Afonso Henriques. Mas só mais tarde, no reinado de D. Dinis, é que foi construído o castelo, o seu principal cartão de visita.
Adorei passear pelas ruas de Linhares da Beira, todas impecavelmente bem preservadas, tal como os edifícios, as igrejas, as fontes, as casas tradicionais, os antigos solares dos nobres com janelas manuelinas e brasões sobre as portas.
É um regresso ao passado mas com uma ligeira nostalgia porque não vi ninguém nas ruas. Aliás, tal como em Idanha-a-Velha, ambas parecem aldeias fantasma. É certo que chegámos ao fim da tarde, no inverno e com temperaturas pouco convidativas para se passear, mas é uma pena estas aldeias serem tão bonitas mas ao mesmo tempo terem tão pouca vida.
No largo da Igreja, descobrimos uma loja com produtos regionais, a Ti’Amélia, onde o meu querido Marido Mistério se perdeu a comprar frutos secos, mel e licor de castanha. Não pode ver nada, é de enlouquecer. Ele tem um único objetivo na vida: engordar-me. Só pode. Para ninguém olhar para mim.
A pequena loja gourmet é vizinha do Cova da Loba, o restaurante mais conhecido de Linhares. Com uma decoração sofisticada, uma carta de vinhos variada e a ementa recheada de pratos típicos da região, tem um toque gourmet. Não deixe de experimentar a famosa sopa de perdiz com boletus e shitake em massa folhada. Garanto-lhe que não se vai arrepender.
Dia 3 – Belmonte e Sortelha
Ao terceiro dia, despedimo-nos com muita pena da Casa de São Lourenço. Saímos cedo porque queríamos passar por Belmonte e Sortelha antes de rumarmos para norte. A caminho de Belmonte, tem um restaurante ótimo de comida típica portuguesa: o Vallécula, em Valhelhas (eu sei, o meu querido Marido Mistério passou a viagem inteira a gozar comigo porque não consigo dizer de seguida tamanha cacofonia). Mas vale a pena almoçar neste restaurante que é paragem obrigatória nesta região.
Confesso que fiquei ligeiramente desiludida quando chegámos a Belmonte, conhecida pelo seu imponente castelo, por ser a terra de Pedro Álvares Cabral e um importante refúgio da comunidade judaica m Portugal. Para começar, não é bem uma aldeia, já é uma vila, muito maior do que as outras por onde passámos. As casas já diferem muito umas das outras, algumas com gosto duvidoso, mas, ao mesmo tempo, tem muito mais vida, vemos carros, pessoas na rua, enfim, é uma vila como muitas outras, mas onde alguns marcos históricos podem passar despercebidos.
Quando chegamos ao topo da vila, ao Largo do Castelo, tudo muda. Regressámos novamente ao passado. Parece que o tempo não passou por aqui. E o castelo de Belmonte tem uma imponência impressionante. Talvez porque as suas muralhas ainda estejam praticamente intactas, aqui respira-se História em cada canto. Apesar de a torre e o castelo terem sido concluídas no reinado de D. Dinis, a partir do século XV, o castelo foi doado por D. Afonso V a Fernão Cabral, pai de Pedro Álvares Cabral, tendo permanecido na família até ao século XVIII.
Com uma vista deslumbrante para a encosta oriental da Serra da Estrela, justifica plenamente a origem do seu nome (monte belo ou belo monte). Mas há historiadores que defendem que a origem vem de “belli monte”, que significa monte de guerra.
Junto ao castelo, vale a pena espreitar as duas capelas, a torre do sino, uma pequena igreja e o panteão da família Cabral, apesar das cinzas de Pedro Álvares Cabral estarem na Igreja da Graça, em Santarém.
Voltámos para o nosso SEAT Ateca, a nossa segunda casa nesta viagem (ainda bem que o carro é super confortável e ultra espaçoso), para nos dirigirmos ao nosso próximo destino: Sortelha. Infelizmente, nem tive tempo de fazer uma sesta porque fica a uns escassos 20 minutos de carro de Belmonte. E, minhas senhoras e meus senhores, apresento-vos Sortelha:
Que maravilha de aldeia! Parece um cenário de um filme de época. As ruas impecavelmente limpas, as casas e os edifícios perfeitamente preservados, as ruínas do castelo parece que abraçam esta aldeia que foi, para nós, a segunda mais bonita de todas. Mas infelizmente estava totalmente deserta, com muito menos vida do que o Piódão.
Só encontrámos uma pessoa: um jardineiro que estava a trabalhar por ali e que nos explicou que na aldeia propriamente dita só vivem duas pessoas, o resto da população vive no aglomerado de casas mais recentes no sopé da montanha.
Sortelha é absolutamente deslumbrante, com as suas construções em pedra, o largo do pelourinho em frente ao castelo, a igreja, as ruas e ruelas íngremes e de pedra, as casas pequenas mas acolhedoras com os seus telhados de cores vivas.
Bem sei que fomos no inverno, durante a semana, por isso não vimos ninguém nas ruas, e até o restaurante mais conhecido da zona, o D. Sancho, estava fechado para férias, mas se pudesse e se fosse rica, criaria em Sortelha um turismo de aldeia de charme como as Casas do Côro, em Marialva, porque o cenário está lá todo, só faltam as infraestruturas e o conforto.
E foi precisamente as Casas do Côro, em Marialva, que escolhemos para dormir na terceira e última noite. É o nosso refúgio preferido para namorar, para descansar, para explorar as aldeias históricas situadas a norte e para comer bem… Ficava a mais de uma hora de caminho de Sortelha, mas vale sempre a pena chegar às Casas do Côro, onde já estivemos mais do que uma vez. Já contei tudo ao pormenor sobre este turismo de aldeia aqui.
É um lugar mágico, com o castelo de Marialva em pano de fundo. Os quartos são muito confortáveis, a decoração é cuidada, o spa é ótimo e a comida é deliciosa. Dormimos, descansámos e no dia seguinte ainda explorámos o castelo mesmo ali ao lado antes de voltarmos para Lisboa.
Além de Marialva, vale a pena espreitar Castelo Rodrigo, percorrer as muralhas de Almeida em forma de estrela, onde já estivemos há algum tempo. Mas essas ficam para um próximo roteiro, porque este já vai longo…
Bom Carnaval para si onde quer que esteja,
Ela
onde dormir:
onde comer:
Cova da Loba, Linhares da Beira
Informações:
https://aldeiashistoricasdeportugal.com/
fotos: casal mistério e d.r.
Este roteiro foi feito com o apoio da SEAT
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