Foi a nossa “casa” durante os dias em que fizemos o roteiro das Aldeias Históricas, mas ficávamos lá para sempre. Chama-se Casa de São Lourenço Burel Panorama Hotel, abriu há um ano meio, e é surpreendente. Com uma vista espetacular sobre o Vale Glaciar do Zêzere, a Vila de Manteigas e a Serra da Estrela, é uma espécie de chalet de montanha de luxo com muito charme.
O hotel
Irmã mais nova da Casa das Penhas Douradas (mas com muito mais pinta), a Casa de São Lourenço renasceu a partir das ruínas da antiga Pousada de São Lourenço que estava abandonada. Projetada pelo famoso arquiteto Rogério de Azevedo e decorada pela designer Maria Keil, a pousada foi inaugurada em 1948, com apenas três quartos duplos mas com uma vista única. Era um ícone da Serra da Estrela. Com os anos, a pousada cresceu e chegou aos atuais 21 quartos, mas, com o tempo, degradou-se e foi votada ao abandono.
Os proprietários da Burel Factory e da Casa das Penhas Douradas, que se situa a menos de 5 km dali, não se conformaram com aquele edifício tão icónico abandonado, ainda, por cima, naquela localização espetacular. Por isso, 70 anos depois da construção inicial da pousada, deram uma nova vida a este espaço, respeitando a sua história: tanto os traços originais de Rogério de Azevedo como as peças de design de Maria Keil. Foi assim que nasceu a Casa de São Lourenço, com um toque moderno e contemporâneo, com uma decoração simples e minimalista, com peças ótimas de designers portugueses, onde se respira arte e conforto e onde o burel, claro, está presente em cada detalhe.
Antes de chegar à receção, situada no edifício original agora renovado, tem uma sala de fumo, toda forrada a madeira clara, com umas simpáticas poltronas, para quem não gosta de fumar ao ar livre, sobretudo aqui onde, à noite, as temperaturas são muitas vezes abaixo de zero. Ao lado da receção, uma sala oval com uma lareira ao fundo dá-nos as boas vidas, bem como um tabuleiro com um jarro de água e uma garrafa de vinho do Porto, simpaticamente oferecidos pela rececionista.
O hotel tem várias salas e recantos com lareiras onde pode ler ou simplesmente descansar, sendo o seu ex-libris o restaurante com as paredes todas em vidro com vista para o Vale Glaciar e para Manteigas e com um original teto decorado com pequenas flores douradas feitas de burel, que mais parecem milhares de origamis.
O quarto
A Casa de São Lourenço tem 21 quartos e suites com várias tipologias: Comfort, Superior, MK Signature e as Suites. Nós ficámos num quarto Comfort porque, além de ser mais barato, chega e sobra para um modesto casal como nós. Com vista para a montanha e para o vale glaciar, tem um pequeno terraço com duas cadeiras e uma mesa de ferro. A decoração é simples, despretensiosa e minimalista. Eu adorei o quarto, espaçoso, com cerca de 23 m2, todo em tons suaves e madeiras claras, com uma cama enorme e confortável, com uma cabeceira azul petróleo, almofadas e édredon de penas de pato e mantas 100% de lã da Burel Mountain Originals.
Além disso, tem uma televisão LCD com mais de 100 canais, um minibar, uma garrafa com água, café e chá e umas maçãs e uns bolinhos de boas vindas. O minibar tinha pouca oferta (uma Água das Pedras, um Compal e um Ice Tea), mas não nos podemos queixar, porque o seu conteúdo era de facto oferta. Não se pagava, o que é muito raro nos dias que correm.
Também os chinelos de quarto, que eram muito giros, feitos de burel, eram oferecidos. Fiquei fã. São este tipo de delicadezas que fazem toda a diferença num hotel de charme. Também fiquei encantada com o conforto da poltrona de design de madeira clara forrada a pele colocada a um canto do quarto. Nunca pensei que uma poltrona com tanto estilo fosse tão confortável. Mas é.
A casa de banho era pequena mas prática e com bons acabamentos. Também ela minimalista, com um duche ótimo junto à janela, tem amenities Molton Brown, mas já em embalagens grandes presas à parede (as miniaturas estão a desaparecer dos hotéis com preocupações ambientais, e ainda bem!). Ao princípio, achámos a casa de banho muito fria a comparar com a temperatura do quarto, mas só depois é que nos apercebemos que, para aquecê-la, tínhamos de ligar o toalheiro. Burros.
Depois, há os quartos Superior que são ligeiramente maiores (têm 28 m2) com uma decoração diferente, mas com a mesma vista para a montanha e para o vale glaciar. Os quartos MK Signature também têm a mesma vista mas uma decoração que respira Maria Keil em todos os detalhes. E finalmente as Suites que têm entre 30 e 42 m2.
O jantar
Para abrir o apetite, o restaurante tem este teto espetacular e uma vista deslumbrante. Depois a ementa é excelente, com pratos típicos da região mas com um toque original.
Eu enlouqueci com a minha sopa de castanhas, era um creme absolutamente divinal, com a textura certa e um sabor perfeito e nada enjoativo. Ele pediu uma entrada mais light só para me irritar: uns deliciosos ovos a baixa temperatura com cogumelos.
Mas depois, desforrou-se: jantou um divinal cabrito assado numa grelha sobre uma espécie de caçarola em que a gordura do cabrito escorria para cima do arroz, em baixo. Acho que Ele chegou a derramar uma lágrima de felicidade. Eu devorei – literalmente – um dos melhores bacalhaus à Brás que esta boca já provou.
Foi de tal forma que no dia seguinte, voltámos a jantar aqui. Que chef talentoso, meu Deus!
O pequeno-almoço
É servido em buffet no mesmo restaurante com a vista de sonho e o teto original, é ótimo e variado. Para começar tem uma imensa oferta de queijos da região que fizeram a felicidade do meu querido Marido Mistério.
Mas, para compensar, os ovos mexidos estavam inevitavelmente frios, esquecidos numa panela, sem nenhuma base que os mantivesse quentes.
Mas, de resto, foi uma perdição: havia panquecas que também acabaram por arrefecer, expostas sobre uma tábua ao lado dos bolos e dos doces. Adorei o sumo detox com pepino, mas também havia sumos naturais, águas e espumante. Fruta fresca, claro, para o meu saudável maridão. Deliciei-me com o iogurte grego que era muitíssimo bom com granola, aveia, frutos secos e sementes. Também havia vários tipos de fiambre, presunto, paio, marmelada, goiabada, queijos frescos e requeijão, salmão fumado e… os bolos, meu Deus?
O meu querido Marido Mistério adorou o bolo de requeijão, os muffins e as miniaturas de pastéis de natas. Resisti estoicamente aos mais variados pães e croissants. O que mais me custou foi desviar o olhar de uns brioches todos arrumadinhos numa caixa de madeira que estiveram o tempo todo a chamar por mim.
Infelizmente tivemos de comer rapidamente porque tínhamos um roteiro para fazer e quando voltámos para o quarto, já estava arrumado. Confesso que achei a limpeza rápida demais. Nada contra, mas os lençóis e o édredon podiam estar mais esticados e a cama mais bem feita. Mas isso sou eu que adoro camas bem esticadas. Também reparei que faltavam duas toalhas na casa de banho: uma de mãos e outra do spa. Se calhar, estou a ficar velha e ligo a detalhes que mais ninguém liga…
Antes de partimos em busca das Aldeias Históricas do nosso país, ainda fomos espreitar o spa para ficarmos a suspirar de inveja por não termos tempo de dar um mergulho ou fazer uma massagem: é lindo, muitíssimo bem arranjado com uma piscina interior aquecida, com hidromassagem, que comunica com a piscina exterior com vista, claro, para o Vale Glaciar do Zêzere.
Falta falar do serviço: desde a receção aos funcionários do restaurante, são todos atenciosos e simpáticos. O serviço é impecável e sente-se que os empregados têm orgulho em trabalhar aqui. É compreensível. Eu fiquei de rastos quando me despedi da Casa de São Lourenço, mas fica a promessa de um regresso com mais tempo para aproveitar o spa.
O bom
Os quartos e a decoração do hotel
O ótimo
O restaurante
O mau
Algumas pequenas falhas no serviço de quartos e os ovos mexidos frios ao pequeno-almoço
Uma ótima viagem, para si onde quer que esteja,
Ela
fotos: casal mistério e d.r.
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